A Última Canção de Conan
Poema de Lin Cater,
adaptado por Roy Thomas e desenhado por Jess Jodloman. Em versos, de
forma bela e comovente, Conan enfrenta o seu último e
derradeiro inimigo ... aquele que, cedo ou tarde, todos devem
enfrentar, mesmo sabendo que ele jamais poderá ser vencido.
Era árdua e
longa a estrada.
E no céu, a
lua branca e fria punha pálidos raios na madrugada
Anunciando o nascer do dia.
Ladrões, prostitutas, reis e guerreiros
magos, patifes, bardos, feiticeiros
caminhavam junto a mim por onde eu ia.
O vento cortava qual lâmina afiada
Á medida que soprava dos mares bravios.
Agitava barracas e árvores da estrada
gemendo nos galhos como espectros sombrios.
No entanto, eu, numa luta renhida
de saques e luxuria,
bebi o vinho da vida
até o fim dos meus brios.
Bravo e selvagem eu vim do Norte
para as cidades que iam me perder.
Com ferros e tochas entreguei-me a sorte
e com sangue venci o que se há de vencer.
Joguei no diabo e alcancei a vitória,
esplendor, fama, estonteante glória,
Sem jamais o sorriso da morte temer.
Inimigos surgiram, para eu derrotar
e amigos leais em quem me fiei.
Conquistei coroas para depois desprezar
e lábios ardentes com luxúria beijei.
Se canções eu cantei com toda a alegria
e vinhos sorvi até a noite virar dia,
então que importa se um dia morrerei ?
O ouro arrebatado, as jóias deslumbrantes...
tudo o que tinha, em pó foi transformado.
E da vida vivida em horas delirantes,
traguei o melhor que ela
podia ter me dado.
Hoje, a cova profunda e a noite vazia,
O mundo, um crânio mofado que asfixia.
contudo, me rio dos deuses, amargurado.
Na região
maldita por onde ia a estrada
de terra ressequida, não indicando o fim,
minha gente seguia alegre e alvoroçada,
pois o caminho mais fácil não encontraria assim.
Vadio e zombeteiro, com terror à espreita,
a estrada da vida sorria à minha direita...
e os abutres da morte zombavam de mim.
Caminho poeirento, longo de tal sorte...
Crom, hoje vejo como um homem enlouquece !
Sou velho, cansado e a morte se fez forte,
consumindo minha carne que com os anos esmorece !
Brava e selvagem, era assim minha gente
que cantava e sorria, cavalgando contente,
Lutando e matando sem deus e sem prece !
Sacerdotes espertos contavam do tesouro
Com que seu paraíso podia ser comprado.
E das almas malditas que como um agouro
gemiam no suplício que lhe foi destinado.
Para o inferno, os sacerdotes com seu ouro e riquezas !
Descerei a garganta que leva as profundezas,
E lá, hei de deixar o diabo destronado.
Se enfrentei a vida com audácia e sem medo.
Por que recuar agora, se a morte me sorrir ?
A vida não passa de um jogo, um brinquedo,
com o qual, junto à morte, eu só me diverti.
Adeus, meus amigos de horas sombrias...
rainhas e criadas de pele macias...
não lamento o que fui em noites vadias,
nem os passos na estrada que finda os meus dias..
AQUI !
Publicado na Espada Selvagem de Conan No 07 pela editora abril em 1985.